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sábado, 4 de dezembro de 2010


Fénelon


Um dos expoentes da Codificação Espírita


François de Salignac de La Mothe, Duque de Fénelon, nasceu no castelo da família, em Périgord, em 6 de agosto de 1651. Desencarnaria em Cambrai a 7 de janeiro de 1715, aos sessenta e três anos de idade.

Até os doze anos, o menino foi educado em casa. Seu preceptor - as fontes consultadas não lhe mencionam o nome - tinha o gosto pelo latim e o grego, e tratou logo de ensinar essas línguas, para que ele pudesse se familiarizar com as obras-primas da literatura clássica.

Ao completar os doze anos de idade, Fénelon passou a freqüentar a Universidade de Cahors, onde concluiria os estudos de filosofia, a que daria continuidade no Colégio Du Plessis, em Paris, foi nesse famoso estabelecimento de ensino que se dedicou à teologia e ficou conhecendo o abade de Noailles, também de família nobre, e que acabaria alcançando os mais elevados postos na hierarquia eclesiástica francesa.

Aos quinze anos de idade, Fénelon foi incumbido de pregar seu primeiro sermão, com grande sucesso. Já dá pra perceber, logo nesta introdução, que os altos escalões da igreja e da política eram constituídos por gente de elevada linhagem. Será esse o ambiente em que se movimentará Fénelon pelo resto de sua existência.

Do Colégio Du Plessis, Fénelon passou ao seminário de Saint-Sulpice, então sob a direção de Tronson. Em 1675, o jovem seminarista, de vinte e quatro anos de idade, foi ordenado no seminário de Saint-Sulpice. Durante os próximos três anos, desempenharia suas funções eclesiásticas juntamente com os demais sacerdotes daquela paróquia. Cabia-lhe explicar os textos evangélicos ao público, aos domingos e dias santos. Participava ativamente das tarefas de ensinar o catecismo. A igreja de Saint-Sulpice ainda conserva suas Litanies de L'enfant-Jésus, escritas especialmente para os freqüentadores de sua paróquia.

Pretendia o jovem sacerdote, por essa época, partir para o Oriente em missão apostólica, com o propósito de converter ao cristianismo tantos pagãos quantos lhe fosse possível alcançar, com o brilho de sua palavra e a amplitude de sua cultura teológica. Mas não seria esse o seu destino, de vez que "Nouvelles catholiques", tratava-se de uma instituição incumbida de acolher jovens e senhoras recém-convertidas do protestantismo ao catolicismo, a fim de consolidar nelas a boa e ortodoxa doutrina da igreja. Objetivo paralelo era o de instruir aquelas que se mostrassem dispostas a abandonar a "heresia".

Era grande a preocupação das lideranças católicas - Prelados e leigos - na salvação das almas que tiveram a infelicidade de se deixar atrair pelas "perigosas" idéias de Lutero. Em 1681, o bispo de Sarlat - nobre também! - tio de Fénelon, renunciou, em favor do sobrinho, ao decanato de Carenas, que rendia de três a quatro mil libras francesas por ano, Fénelon deixou por algum tempo as Novas católicas, a fim de tomar posse do novo cargo, mas logo retornou a Paris e reassumiu a direção da instituição, posto em que permaneceria por dez anos.

Escreveu nesse período, De L'éducation des filles, primeira obra significativa em sua carreira de escritor e educador. O livro, solicitado pela duquesa de Beauviller para orientá-la na educação de suas filhas, alcançou grande sucesso, tornando-se obra de referência para as famílias da época, bem como texto de consulta para os estudiosos da pedagogia.

Graças a sua simplicidade, doçura e caridade, Fénelon obteve considerável sucesso na tarefa, conseguindo converter rapidamente grande número de pessoas. Fénelon não se iludiu com suas numerosas conquistas, reconhecendo que nem todas eram sinceras. Uma avaliação realista, essa. Com os protestantes em minoria e postos fora da lei, o catolicismo tornara-se mais confortável ou, no mínimo, mais seguro. Mesmo assim, acrescenta, o resultado de sua missão foi considerado "muito satisfatório".

Não escapou, no entanto, de algumas críticas. É que as alas mais radicais da igreja atacaram seus métodos de conversão e o consideraram "demasiado condescendentes com os heréticos". Ele preferiu não se justificar.

Nesse ínterim, vagou-se o bispado de Poitiers. O nome de Fénelon foi indicado e o rei concordou, mas a nomeação não chegou a concretizar-se, segundo se diz, por causa das intrigas do nobre senhor de Harlay, arcebispo de Paris, que tinha lá suas divergências com Bossuet, e não via com bom olhos a amizade de Fénelon com o rival. Tudo no melhor estilo da pior política de bastidores.

Por essa mesma época, Fénelon sofreu outro revés. Alguém - seria ainda o senhor arcebispo de Paris ? - convenceu o rei a negar-lhe a nomeação como co-adjutor do arcebispo de La Rochelle, que o desejava como colaborador.

Pouco depois, em 1689, os bons ventos do sucesso voltaram a soprar a favor do jovem prelado. O duque de Beauvilliers, designado "governador" do jovem duque de Borgonha - neto do rei e herdeiro presuntivo da coroa - escolheu Fénelon para o honroso cargo de preceptor do príncipe. Como estamos lembrados, ele escrevera, a pedido da duquesa de Beauvillers, um livro destinado a orientá-la na educação das filhas do casal.

Fénelon dedicou-se logo a trabalhar no sentido de corrigir o comportamento do príncipe por meio de fábulas, que ele próprio ia escrevendo. Escrevia, em seguida, o curioso Dialogues des Morts (Diálogo dos Mortos), engenhoso e criativo texto, no qual punha a dialogar personalidades históricas do passado, empenhadas em avaliar seus próprios atos e postura.

Os últimos anos de Fénelon foram entristecidos pelo desencarne de seus melhores amigos. No final de 1710 perdeu Abbe de Langeron, seu companheiro de toda a vida; em fevereiro de 1712, desencarna seu aluno, duque de Borgonha. Alguns meses mais tarde, o duque de Chevreuse foi levado, e o duque de Beauvillers seguiu em agosto de 1714. Fénelon sobreviveu somente mais alguns meses. Com ele desapareceu um dos membros mais ilustres do episcopado francês, certamente um dos homens mais atrativos de sua época. Deve seu sucesso unicamente a seus talentos grandes e virtudes admiráveis.

Fénelon figura na Codificação Espírita, em vários momentos, podendo ser citado: "O Livro dos Espíritos", onde assina Prolegômeros, junto a uma plêiade de luminares espirituais. Igualmente a resposta à questão de nº 917 é de sua especial responsabilidade.

Em "O Evangelho Segundo o Espiritismo", apresenta-se em vários momentos, discursando a cerca da terceira revelação e da revolução moral do homem (cap. I, 10); o homem de bem e os tormentos voluntários (cap. V,22 - 23); a lei de amor (cap. XI, 9); o ódio(cap. XII,10) e emprego da riqueza(cap. XVI,13).

Em "O Livro dos Médiuns", figura no capítulo das Dissertações Espíritas (cap. XXXI, 2º parte, itens XXI e XXII), desenvolvendo aspectos acerca de reuniões espíritas e da multiplicidade dos grupos espíritas.

Importante assinalar que os destaques assinalados são aqueles em que o espírito assina seu nome, devendo se considerar que deve, como os demais responsáveis espirituais pela Codificação, ter estado presente em muitos outros momentos, dando sua especial contribuição. Eis que foi convidado pelo Espírito da Verdade a compor sua equipe, em tão grandioso empreendimento.


Fonte: Revista Delfos Nº 9 (Ed. Boa Nova)

sábado, 30 de outubro de 2010


JEAN BAPTISTE HENRI LACORDAIRE



Em junho de 1853, quando as mesas girantes e falantes agitavam os salões da Europa, depois de terem assombrado a América, em missiva a Mme. Swetchine, ele escreveu:

"Vistes girar e ouvistes falar das mesas”?

- Desdenhei vê-las girar, como uma coisa muito simples, mas ouvi e fiz falar. Elas me disseram coisas muito admiráveis sobre o passado e o presente.

Por mais extraordinário que isto seja, é para um cristão que acredita nos Espíritos um fenômeno muito vulgar e muito pobre.

Em todos os tempos houve modos mais ou menos bizarros para se comunicar com os Espíritos; apenas outrora se fazia mistério desses processos, como se fazia mistério da química; a justiça por meio de execuções terríveis enterrava essas estranhas práticas na sombra.

Hoje, graças à liberdade dos cultos e à publicidade universal, o que era um segredo tornou-se uma fórmula popular.

Talvez, também, por essa divulgação Deus queira proporcionar o desenvolvimento das forças espirituais ao desenvolvimento das forças materiais, para que o homem não esqueça, em presença das maravilhas da mecânica, que há dois mundos incluídos um no outro: “o mundo dos corpos e o mundo dos espíritos”.

O missivista era Jean Baptiste Henri Lacordaire, nascido em 12 de maio de 1802, numa cidade francesa perto de Dijon.

A despeito de seus pais serem religiosos fervorosos, o jovem Lacordaire permaneceu ateu até que uma profunda experiência religiosa o levou a abraçar a carreira de advogado, na Teologia.

Completando os estudos no Seminário, na qualidade de professor, pôde constatar o relativo descaso dos seus estudantes pela religião.

No intuito de despertar a afeição pública para a Igreja, como colaborador do jornal L'Avenir, passou a lutar pela liberdade daquela, da assistência e proteção do Estado.

Vigário da famosa Catedral de Notre Dame, em Paris, a força da sua oratória atraía milhares de leigos para o culto.

Em 1839 entrou para a Ordem Dominicana na França, trabalhando pela sua restauração, desde que a Revolução Francesa a tinha largamente subvertido.

Discípulo de Lamennais; preocupou-se em afirmar que a união da liberdade e do Cristianismo seria a única possibilidade de salvação do futuro.

Cristianismo, por poder dar à liberdade a sua real dimensão e a liberdade, por poder dar ao Cristianismo os meios de influência necessários para isto.

Insistia que o Estado devia cercear seu controle sobre a educação, a imprensa, e trabalho de maneira a permitir ao Cristianismo florescer efetivamente dentro dessas áreas.

Foi Membro da Academia Francesa e o Codificador Allan Kardec inseriu artigo a seu respeito na Revista Espírita de fevereiro de 1867, seis anos após a sua desencarnação, que se deu em 21 de novembro de 1861.

Nele, reproduz extrato da correspondência que inicia o presente artigo, comentando: "Sua opinião sobre a existência e a manifestação dos Espíritos é categórica. Ora, como ele é tido, geralmente, por todo o mundo, como uma das altas inteligências do século, parece difícil colocá-lo entre os loucos, depois de o haver aplaudido como homem de grande senso e progresso. Pode, pois, ter-se senso comum e crer nos Espíritos".

Em sessão realizada na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas em 18 de janeiro daquele ano, o médium "escrevente habitual" Morin, descreveu a presença do espírito do padre Lacordaire, como "um Espírito de grande reputação terrena, elevado na escala intelectual dos mundos... Espírita antes do Espiritismo...” e concluiu:

"Ele pede uma coisa, não por orgulho ou por um interesse pessoal qualquer, mas no interesse de todos e para o bem da doutrina: a inserção na Revista do que escreveu há treze anos. Diz que se pede tal inserção é por dois motivos: o primeiro porque mostrareis ao mundo, como dizeis, que se pode não ser tolo e crer nos Espíritos. O segundo é que a publicação dessa primeira citação fará descobrir em seus escritos outras passagens que serão assinaladas, como concordes com os princípios do Espiritismo."

Mas ele mesmo, Lacordaire, retornou de Além-Túmulo, para emprestar à obra da Codificação a sua inestimável e talentosa contribuição.

Em “O Evangelho Segundo o Espiritismo” encontramos 3 mensagens, ditadas no Havre e Constantina, todas datadas do ano de 1863, discorrendo sobre "O bem e mal sofrer" - cap. V, item 18; "O orgulho e a humildade" - cap. VII, item 11 e "Desprendimento dos bens terrenos" - cap. XVI, item 14.


Autor desta biografia desconhecido

sábado, 2 de outubro de 2010


GABRIEL DELANNE


Nascido em Paris, no dia 23 de março de 1857 – no mesmo ano da publicação de "O Livro dos Espíritos" – Delanne foi (juntamente com Leon Denis) o discípulo mais próximo de Alan Kardec. Além disso foi provavelmente a 1a grande personagem espírita nascida em uma família espírita. Apenas para recordar, Allan Kardec tomou conhecimento dos fenômenos espíritas aos 50 anos e Leon Denis era adolescente quando ouviu falar pela 1a vez do Espiritismo. Gabriel Delanne nasceu em família espírita, seu pai Alexandre Delanne acompanhou de perto os trabalhos de Allan Kardec tendo formado um pequeno grupo familiar de estudos espíritas tendo como médium escrevente sua esposa Alexandrine Delanne.

Portanto desde criança Gabriel Delanne estava familiarizado com o vocabulário espiritista e assistiu desde muito pequeno a numerosas sessões espíritas. Delanne, inclusive, travou contato com o mestre Kardec na sua infância – Kardec faleceu quando Delanne tinha 12 anos de idade.

Uma vida atribulada e sofrida

Gabriel Delanne iniciou seus estudos no colégio Cluny (em Saone-et-Loire), depois no colégio de Grau (em Haute-Soane) e aos 19 anos ingressou na Escola Central das Artes e Manufatura. Como a situação financeira de seus pais não permitiu a conclusão de seus estudos começou a trabalhar na Companhia de Ar Comprimido e de Eletricidade Popp onde esteve até 1892, dividindo seu tempo entre seu trabalho e sua dedicação ao Espiritismo.

Delanne não gozava de boa saúde. De menino tinha um abcesso no olho esquerdo – pelo qual foi isento do serviço militar – o qual resultou numa infecção que iria progressivamente prejudicar sua visão. No curso dos anos seu estado de saúde foi se agravando. Em 1906 a paralisia dos membros inferiores obrigava-o a andar com duas bengalas. Nem por isso abandonou as conferências na França e no exterior, sempre divulgando as idéias espíritas. No período da 1a guerra (1914/18) a saúde de Delanne piorou ainda mais. Cada movimento era um grande sofrimento e ainda por cima ficou cego.

Em 1918 já não conseguia mais andar sendo necessário o uso de cadeira de rodas. Não obstante todos esses sofrimentos físicos continuou produzindo incessantemente, retirado na vila de Montmorency onde Jean Myer lhe havia dado asilo.

Sua morte se deu em 15 de fevereiro de 1926, aos 69 anos de idade. Sua sepultura se encontra no famoso cemitério parisiense de Pere Lachaise.

Contribuições ao Espiritismo

Como já dito Gabriel Delanne marcou a transição e a continuação da obra de Kardec. Defensor ferrenho do caráter cientifico da Doutrina Espírita dedicou a maior parte de seus esforços na luta por consolidar o Espiritismo como uma ciência estabelecida e complementar às outras. Foi presidente da União Espírita Francesa, presidente da Sociedade de Estudos dos Fenômenos Psíquicos, fundador e diretor da Revista Cientifica e Moral de Espiritismo. Escritor de grande talento, dentre suas principais obras destacam-se:

O Espiritismo Perante a Ciência, O Fenômeno Espírita, A Evolução Anímica, A Reencarnação, A Alma é Imortal, Katie King, As Materializações da Vila Carmen.

Marcam suas obras a defesa ferrenha dos conceitos espíritas e o combate ao materialismo. Utilizando o método racional empregado na época, faz uso de casos e observações para comprovar suas hipóteses. Apesar de aceitar a revelação dos espíritos, sempre procurou a comprovação através dos fatos.

No meu entender sua maior contribuição ao Espiritismo foi a tese do Perispírito. Se o conceito do Perispírito havia sido introduzido por Allan Kardec, foi Delanne quem o definiu, estudou e atribuiu diversas funções na economia corporal e espiritual. Vitalista, atribui ao perispírito a resposta às questões pendentes de sua época:

Como explicar a vida? Por que se morre? Como a estabilidade orgânica é mantida frente a renovação celular constante? Como explicar a ação inteligente da alma sobre o corpo? Onde se localiza a memória? Como se dá a evolução anímica?

Para todas essas questões Delanne ofereceu como resposta a existência do Perispírito, suas características e funções. Além disso, desenvolveu brilhante explicação acerca dos fenômenos espíritas, novamente utilizando o Perispírito como peça central, sempre ressaltando que o Espiritismo não tinha nada de sobrenatural e se calcava em bases naturais, ou seja, na existência desse corpo físico, porém etéreo, ponte entre a alma e o corpo físico. Introduziu também com muita força a noção do fluido vital. Finalmente atribuiu ao Perispírito a sede da memória, estabelecendo assim uma ligação entre a reencarnação e a evolução anímica.


A leitura de suas obras mostra um Delanne apaixonado, convencido da força das idéias espíritas e mais que tudo consciente do impacto moral das mesmas, como nos atesta o seguinte trecho da conclusão de sua obra "A Evolução Anímica" (Delanne,Gabriel – 6a Edição; Ed. FEB – pág. 252) :

“Com a certeza das vidas sucessivas e da responsabilidade dos nossos atos, muitos problemas revelar-se-ão sob novos prismas”. As lutas sociais, que atingem, nesta nossa época, um caráter de aguda aspereza, poderão ser suavizadas pela convicção de não ser a existência planetária mais que um momento transitório no curso de uma eterna evolução.

Com menos orgulho nas camadas altas e menos inveja nas baixas, surgirá uma solidariedade efetiva, em contacto com estas doutrinas consoladoras, e talvez possamos ver desaparecer da face da Terra as lutas fratricidas, ineptos frutos da ignorância, a se dissiparem diante dos ensinamentos de amor e fraternidade, que são a coroa radiosa do Espiritismo.

Por toda sua dedicação a idéia espírita, na defesa do aspecto científico do Espiritismo e por seu humanismo Gabriel Delanne merece lugar de destaque entre os pensadores que contribuíram para a evolução da idéia espírita no século XX.


Autor: Marcelo Coimbra Régis


GABRIEL DELANNE


Nascido em Paris, no dia 23 de março de 1857 – no mesmo ano da publicação de "O Livro dos Espíritos" – Delanne foi (juntamente com Leon Denis) o discípulo mais próximo de Alan Kardec. Além disso foi provavelmente a 1a grande personagem espírita nascida em uma família espírita. Apenas para recordar, Allan Kardec tomou conhecimento dos fenômenos espíritas aos 50 anos e Leon Denis era adolescente quando ouviu falar pela 1a vez do Espiritismo. Gabriel Delanne nasceu em família espírita, seu pai Alexandre Delanne acompanhou de perto os trabalhos de Allan Kardec tendo formado um pequeno grupo familiar de estudos espíritas tendo como médium escrevente sua esposa Alexandrine Delanne.

Portanto desde criança Gabriel Delanne estava familiarizado com o vocabulário espiritista e assistiu desde muito pequeno a numerosas sessões espíritas. Delanne, inclusive, travou contato com o mestre Kardec na sua infância – Kardec faleceu quando Delanne tinha 12 anos de idade.

Uma vida atribulada e sofrida

Gabriel Delanne iniciou seus estudos no colégio Cluny (em Saone-et-Loire), depois no colégio de Grau (em Haute-Soane) e aos 19 anos ingressou na Escola Central das Artes e Manufatura. Como a situação financeira de seus pais não permitiu a conclusão de seus estudos começou a trabalhar na Companhia de Ar Comprimido e de Eletricidade Popp onde esteve até 1892, dividindo seu tempo entre seu trabalho e sua dedicação ao Espiritismo.

Delanne não gozava de boa saúde. De menino tinha um abcesso no olho esquerdo – pelo qual foi isento do serviço militar – o qual resultou numa infecção que iria progressivamente prejudicar sua visão. No curso dos anos seu estado de saúde foi se agravando. Em 1906 a paralisia dos membros inferiores obrigava-o a andar com duas bengalas. Nem por isso abandonou as conferências na França e no exterior, sempre divulgando as idéias espíritas. No período da 1a guerra (1914/18) a saúde de Delanne piorou ainda mais. Cada movimento era um grande sofrimento e ainda por cima ficou cego.

Em 1918 já não conseguia mais andar sendo necessário o uso de cadeira de rodas. Não obstante todos esses sofrimentos físicos continuou produzindo incessantemente, retirado na vila de Montmorency onde Jean Myer lhe havia dado asilo.

Sua morte se deu em 15 de fevereiro de 1926, aos 69 anos de idade. Sua sepultura se encontra no famoso cemitério parisiense de Pere Lachaise.

Contribuições ao Espiritismo

Como já dito Gabriel Delanne marcou a transição e a continuação da obra de Kardec. Defensor ferrenho do caráter cientifico da Doutrina Espírita dedicou a maior parte de seus esforços na luta por consolidar o Espiritismo como uma ciência estabelecida e complementar às outras. Foi presidente da União Espírita Francesa, presidente da Sociedade de Estudos dos Fenômenos Psíquicos, fundador e diretor da Revista Cientifica e Moral de Espiritismo. Escritor de grande talento, dentre suas principais obras destacam-se:

O Espiritismo Perante a Ciência, O Fenômeno Espírita, A Evolução Anímica, A Reencarnação, A Alma é Imortal, Katie King, As Materializações da Vila Carmen.

Marcam suas obras a defesa ferrenha dos conceitos espíritas e o combate ao materialismo. Utilizando o método racional empregado na época, faz uso de casos e observações para comprovar suas hipóteses. Apesar de aceitar a revelação dos espíritos, sempre procurou a comprovação através dos fatos.

No meu entender sua maior contribuição ao Espiritismo foi a tese do Perispírito. Se o conceito do Perispírito havia sido introduzido por Allan Kardec, foi Delanne quem o definiu, estudou e atribuiu diversas funções na economia corporal e espiritual. Vitalista, atribui ao perispírito a resposta às questões pendentes de sua época:

Como explicar a vida? Por que se morre? Como a estabilidade orgânica é mantida frente a renovação celular constante? Como explicar a ação inteligente da alma sobre o corpo? Onde se localiza a memória? Como se dá a evolução anímica?

Para todas essas questões Delanne ofereceu como resposta a existência do Perispírito, suas características e funções. Além disso, desenvolveu brilhante explicação acerca dos fenômenos espíritas, novamente utilizando o Perispírito como peça central, sempre ressaltando que o Espiritismo não tinha nada de sobrenatural e se calcava em bases naturais, ou seja, na existência desse corpo físico, porém etéreo, ponte entre a alma e o corpo físico. Introduziu também com muita força a noção do fluido vital. Finalmente atribuiu ao Perispírito a sede da memória, estabelecendo assim uma ligação entre a reencarnação e a evolução anímica.


A leitura de suas obras mostra um Delanne apaixonado, convencido da força das idéias espíritas e mais que tudo consciente do impacto moral das mesmas, como nos atesta o seguinte trecho da conclusão de sua obra "A Evolução Anímica" (Delanne,Gabriel – 6a Edição; Ed. FEB – pág. 252) :

“Com a certeza das vidas sucessivas e da responsabilidade dos nossos atos, muitos problemas revelar-se-ão sob novos prismas”. As lutas sociais, que atingem, nesta nossa época, um caráter de aguda aspereza, poderão ser suavizadas pela convicção de não ser a existência planetária mais que um momento transitório no curso de uma eterna evolução.

Com menos orgulho nas camadas altas e menos inveja nas baixas, surgirá uma solidariedade efetiva, em contacto com estas doutrinas consoladoras, e talvez possamos ver desaparecer da face da Terra as lutas fratricidas, ineptos frutos da ignorância, a se dissiparem diante dos ensinamentos de amor e fraternidade, que são a coroa radiosa do Espiritismo.

Por toda sua dedicação a idéia espírita, na defesa do aspecto científico do Espiritismo e por seu humanismo Gabriel Delanne merece lugar de destaque entre os pensadores que contribuíram para a evolução da idéia espírita no século XX.


Autor: Marcelo Coimbra Régis

sábado, 4 de setembro de 2010


Camille Flammarion


Nascido em Montigny- Le-Roy, França, no dia 26 de fevereiro de 1842, e desencarnado em Juvissy no mesmo país, a 4 de junho de 1925.

Flammarion foi um homem cujas obras encheram de luzes o século XIX. Ele era o mais velho de uma família de quatro filhos, entretanto, desde muito jovem se revelaram nele qualidades excepcionais. Queixava- se constantemente que o tempo não lhe deixava fazer um décimo daquilo que planejava. Aos quatro anos de idade já sabia ler, aos quatro e meio sabia escrever e aos cinco já dominava rudimentos de gramática e aritmética. Tornou- se o primeiro aluno da escola onde freqüentava.

Para que ele seguisse a carreira eclesiástica, puseram- no a aprender latim com o vigário Lassalle. Aí Flammarion conheceu o Novo Testamento e a Oratória. Em pouco tempo estava lendo os discursos de Massilon e Bonsuet. O padre Mirbel falou da beleza da ciência e da grandeza da Astronomia e mal sabia que um de seus auxiliares lhe bebia as palavras. Esse auxiliar era Camille Flammarion, aquele que iria ilustrar a letra e a significação galo-romana do seu nome - Flammarion: "Aquele que leva a luz".

Nas aulas de religião era ensinado que uma só coisa é necessária: "a salvação da alma", e os mestres falavam: "De que serve ao homem conquistar o Universo se acaba perdendo a alma?".

Foi dura a vida dos Flammarions, e Camille compreendeu o mérito de seu pai entregando tudo aos credores. Reconhecia nele o mais belo exemplo de energia e trabalho, entretanto, essa situação levou-o a viver com poucos recursos.

Camille, depois de muito procurar, encontrou serviço de aprendiz de gravador, recebendo como parte do pagamento casa e comida. Comia pouco e mal, dormia numa cama dura, sem o menor conforto; era áspero o trabalho e o patrão exigia que tudo fosse feito com rapidez. Pretendia completar seus estudos, principalmente a matemática, a língua inglesa e o latim. Queria obter o bacharelado e por isso estudava sozinho à noite. Deitava-se tarde e nem sempre tinha vela. Escrevia ao clarão da lua e considerava-se feliz. Apesar de estudar à noite, trabalhava de 15 a 16 horas por dia. Ingressou na Escola de desenho dos frades da Igreja de São Roque, a qual freqüentava todas as quintas-feiras. Naturalmente tinha os domingos livres e tratou de ocupá-los.

Nesse dia assistia as conferências feitas pelo abade sobre Astronomia. Em seguida tratou de difundir as associações dos alunos de desenho dos frades de São Roque, todos eles aprendizes residentes nas vizinhanças. Seu objetivo era tratar de ciências, literatura e desenho, o que era um programa um tanto ambicioso.

Aos 16 anos de idade, Camille Flammarion foi presidente da Academia, a qual, ao ser inaugurada, teve como discurso de abertura o tema "As Maravilhas da Natureza". Nessa mesma época escreveu "Cosmogonia Universal", um livro de quinhentas páginas; o irmão, também muito seu amigo, tomou-se livreiro e publicava-lhe os livros. A primeira obra que escreveu foi "O Mundo antes da Aparição dos Homens", o que fez quando tinha apenas 16 anos de idade.

Gostava mais da Astronomia do que da Geologia. Assim era sua vida: passar mal, estudar demais, trabalhar em exagero.

Um domingo desmaiou no decorrer da missa, por sinal, um desmaio muito providencial. O doutor Edouvard Fornié foi ver o doente. Em cima da sua cabeceira estava um manuscrito do livro "Cosmologia Universal". Após ver a obra, achou que Camille merecia posição melhor. Prometeu-lhe, então, colocá-lo no Observatório, como aluno de Astronomia. Entrando para o Observatório de Paris, do qual era diretor Levèrrier, muito sofreu com as impertinências e perseguições desse diretor, que não podia conceber a idéia de um rapazola acompanhá-lo em estudos de ordem tão transcendental.

Retirando-se em 1862 do Observatório de Paris, continuou com mais liberdade os seus estudos, no sentido de legar à Humanidade os mais belos ensinamentos sobre as regiões silenciosas do Infinito. Livre da atmosfera sufocante do Observatório, publicou no mesmo ano a sua obra "Pluralidade dos Mundos Habitados", atraindo a atenção de todo o mundo estudioso. Para conhecer a direção das correntes aéreas, realizou, no ano de 1868, algumas ascensões aerostáticas.

Pela publicação de sua "Astronomia Popular", recebeu da Academia Francesa, no ano de 1880, o prêmio Montyon. Em 1870 escreveu e publicou um tratado sobre a rotação dos corpos celestes, através do qual demonstrou que o movimento de rotação dos planetas é uma aplicação da gravidade às suas densidades respectivas. Tornando-se espírita convicto, foi amigo pessoal e dedicado de Allan Kardec, tendo sido o orador designado para proferir as últimas palavras à beira do túmulo do Codificador do Espiritismo, a quem denominou "o bom senso encarnado".

Suas obras, de uma forma geral, giram em torno do postulado espírita da pluralidade dos mundos habitados e são as seguintes: "Os Mundos Imaginários e os Mundos Reais", "As Maravilhas Celestes", "Deus na Natureza", "Contemplações Científicas", "Estudos e Leitura sobre Astronomia", "Atmosfera", "Astronomia Popular", "Descrição Geral do Céu", "O Mundo antes da Criação do Homem", "Os Cometas", "As Casas Mal-Assombradas", "Narrações do Infinito", "Sonhos Estelares", "Urânia", "Estela", "O Desconhecido", "A Morte e seus Mistérios", "Problemas Psíquicos", "O Fim do Mundo" e outras.

Camille Flammarion, segundo Gabriel Delanne, foi um filósofo e sábio, possuindo a arte da ciência e a ciência da arte. Flammarion -"poeta dos Céus", como o denominava Michelet - tornou- se baluarte do Espiritismo, pois, sempre coerente com suas convicções inabaláveis, foi um verdadeiro idealista e inovador.




domingo, 1 de agosto de 2010


PESTALOZZI


Um dos maiores educadores da humanidade e mestre de Allan Kardec


Pestalozzi passou a ser conhecido, devido ao conjunto de sua obra, como "O Educador da Humanidade".

A Formação: Johann Heinrich Pestalozzi nasceu em Zurich, Suíça, no ano de 1746. Órfão de pai aos 4 anos, passou por grandes dificuldades, juntamente com a mãe e três irmãos, fato este que ajudou a consolidar sua personalidade predominantemente humanista, tornando-o um homem sensível e sonhador, sempre preocupado com o destino dos necessitados.

Ainda estudante, já demonstrava interesse pela causa dos desamparados, participando sempre de movimentos de reforma política e social. Em 1774, na esteira de seu pioneirismo, fundou um orfanato, onde tinha a intenção de ensinar técnica de agricultura e comércio, tentativa que fracassou alguns anos depois. Resolveu, então, transformar o projeto agrícola fracassado em um Instituto Filantrópico para crianças abandonadas, no que também não teve sucesso. Porém, nunca desistiu de seus objetivos.

Durante a Invasão Napoleônica, em 1798, quando a cidade de Stans foi invadida e seus habitantes massacrados pelas tropas, Pestalozzi reuniu as crianças desamparadas e passou a cuidar delas em meio às mais precárias condições. Claramente influenciado pelas idéias de Jean Jacques-Rousseau, acreditava na educação como um desenvolvimento total do indivíduo, num conjunto moral, intelectual e físico, cuja potencialidade se encontra na criança, que deve ser estimulada, principalmente no lar em que vive: "A escola deve ser a continuação do lar. É no lar que se encontra o fundamento de toda cultura verdadeiramente humana e social" – concluía o educador.

Pestalozzi acreditava que o indivíduo, desde criança, possui todos os meios necessários para a socialização plena e que o papel do educador é justamente promover o desenvolvimento desses valores já existentes em cada indivíduo, sempre ressaltando a importância da família na formação da personalidade. Para ele, a mãe é a figura central do desenvolvimento educacional. E ele entendia que o conhecimento não é propriamente adquirido, mas sim desenvolvido, pois cada ser humano já nasce com a tendência espontânea da natureza de seu próprio desenvolvimento. Somente precisa do estímulo do educador, sempre subordinado à educação moral e espiritual.

Em 1805, Pestalozzi fundou o famoso Internato de Yverdon, cujas atividades principais eram desenho, escrita, canto, educação física, modelagem, cartografia e excursões ao ar livre. Durante os 20 anos de funcionamento, a escola foi freqüentada por estudantes de vários países europeus. Tal Instituto, devido à sua popularidade, ganhou renome internacional.

O espiritismo trouxe grandes influências das idéias de Pestalozzi, principalmente no que diz respeito à importância do lar como base para a educação espiritual e para a formação da personalidade do indivíduo. A didática de Pestalozzi preceitua que a melhor escola ainda é o lar, onde a criatura deve receber as bases do sentimento e do caráter e que a universidade pode fazer o cidadão, mas somente o lar pode edificar o homem.

Em 1825, devido a disputas internas, foi obrigado a encerrar suas atividades no Instituto de Yverdon, o que lhe causou enorme tristeza.

Dotado de vasta cultura, em 1781, publicou um romance em quatro volumes, intitulado "Leonardo e Gertrude", muito divulgado, onde expunha suas idéias de reforma social e política. O livro conta a história de Gertrudes, uma mulher generosa, dotada de bondade e inteligência infinitas. Sua dedicação aos filhos era tamanha que, além de tirar seu marido Leonardo do vício da embriaguez, conseguiu influenciar os habitantes da aldeia onde morava: fez com que todos aplicassem seus métodos em benefício da população, alcançando o bem estar social tão almejado por Pestalozzi, que acreditava plenamente possível realizar na prática, o conteúdo de sua obra.

Johann Heinrich Pestalozzi casou-se com Ana Schultz, companheira amiga e fiel, que lhe deu o filho Jacob, falecido ainda jovem. Jacob, porém, deixou-lhe o neto Gottlieb, que permaneceu ao lado do avô até os últimos dias deste, quando, acometido de grave doença, veio a desencarnar em 17 de fevereiro de 1827.

sábado, 24 de julho de 2010


SÓCRATES

Seu nome em grego é Sokrátes. Sua cidade natal foi Atenas, no ano de 469 a.C., tendo nascido filho de um escultor, de nome Sofronisco e de uma parteira, Fenarete.

Fisicamente, era considerado feio, com seu nariz achatado, olhos esbugalhados, uma calva enorme, rosto pequeno, estômago saliente e uma longa barba crespa.

Casou-se com Xantipa e teve três filhos, mas dizem que trabalhava apenas o necessário para que a família não viesse a perecer à fome.

Tendo sido proclamado pelo oráculo de Delfos, como o mais sábio dos homens, Sócrates passou a se incumbir de converter os seus concidadãos à sabedoria e à virtude. Considerava-se protegido por um "daimon", gênio, demônio, espírito, cuja voz, afirmava, desde a infância, o aconselhava a se afastar do mal.

Não tinha propriamente uma escola, mas um círculo de familiares, discípulos com os quais se encontrava, de preferência, no ginásio do Liceu. Em verdade, onde quer que se encontrasse, na casa de amigos, no ginásio, na praça pública, interrogava os seus interlocutores a respeito das coisas que, por hipótese, deveriam saber, fossem eles um adolescente, um escravo, um futuro político, um militar, uma cortesã ou sofistas.

Desta forma, conclui que eles não sabem o que julgam saber e, o que é mais grave, não sabem que não sabem. Por sua vez, ele, Sócrates, não sabe, mas sabe que não sabe.

Era considerado um homem corajoso e de muita resistência física. Todos se recordavam de como ele, sozinho, enfrentara a histeria coletiva que se seguira à batalha naval de Arginusas, quando dez generais foram condenados à morte por não terem salvo soldados que estavam a se afogar.

Ele ensinava que a boa conduta era aquela controlada pelo espírito e que as virtudes consistiam na predominância da razão sobre os sentimentos. Introduziu a idéia de definir os termos, pois, "antes de se começar a falar, era preciso saber sobre o que é que se estava falando".

Para Sócrates, a virtude supõe o conhecimento racional do bem. Para fazer o bem, basta, portanto, conhecê-lo. Todos os homens procuram a felicidade, quer dizer, o bem, e o vício não passa de ignorância, pois ninguém pode fazer o mal voluntariamente.

Foi denunciado como subversivo, por não acreditar nos deuses da cidade, e também corruptor da mocidade. Não se sabe exatamente o que os seus acusadores pretendiam dizer, mas o certo é que os moços o amavam e o seguiam. O convite a pensar por si mesmos, atraía os jovens e talvez fosse isso que temessem pais e políticos. Ocorreu também que um dos seus discípulos, de nome Alcibíades, durante a guerra com Esparta tinha se passado para o lado do inimigo. Embora a culpa não fosse de Sócrates, pois a decisão fora pessoal, Atenas buscava culpados.

Foi julgado por um tribunal popular de 501 cidadãos e condenado à morte. Poderia ter recorrido da sentença e, com certeza, receber uma pena mais branda. Entretanto, racional como era, afirmou aos discípulos que o visitaram na prisão:
"Uma das coisas em que acredito é no reinado da lei. Bom cidadão, como eu tantas vezes vos tenho dito, é aquele que obedece às leis de sua cidade. As leis de Atenas condenaram-me à morte, e a inferência lógica é que, como bom cidadão, eu deva morrer."

É Platão quem descreve a morte do seu mestre, no diálogo Fédon. Sócrates passou esta noite a discutir filosofia com seus jovens amigos. O tema, "Haverá uma outra vida depois da morte?"

Embora fosse morrer em poucas horas, discutiu sem paixão sobre as probabilidades de uma vida futura, ouvindo mesmo as objeções dos discípulos que eram contrários à sua própria opinião.

Quando o carcereiro lhe apresentou a taça de veneno, em tom calmo e prático, Sócrates lhe disse:
"Agora, você que entende dessas coisas, diga-me o que fazer."
"Beba a cicuta, depois levante-se e passeie até sentir as pernas pesadas, respondeu o carcereiro. Então, deite-se, e o torpor subirá para o coração."

Sócrates a tudo obedeceu. Como os amigos chorassem e soluçassem muito, ele os censurou. Seu último pensamento foi de uma pequena dívida que havia esquecido. Afastou a coberta que lhe haviam colocado sobre o rosto e pediu:
"Crito, devo um galo a Esculápio...Providencie para que a dívida seja paga."

Fechou os olhos e cobriu novamente o rosto. Quando Crito tornou a lhe indagar se tinha outras recomendações a fazer, ele não mais respondeu. Havia penetrado o mundo dos espíritos. Era o ano 39 a.C.

Sócrates nada escreveu e sua doutrina somente nos chegou pelos escritos de seu discípulo Platão. Ambos, mestre e discípulo, são considerados precursores da idéia cristã e do espiritismo, tendo o Codificador dedicado as páginas da introdução de O Evangelho segundo o Espiritismo para esse detalhamento.

O nome de Sócrates se encontra especialmente em Prolegômenos de O livro dos espíritos, logo após o de O espírito da verdade, seguido de Platão. Ainda encontramos seus comentários aos itens 197 e 198 de O livro dos médiuns, no capítulo que trata dos médiuns especiais, demonstrando que o trabalhador verdadeiro não cessa suas atividades, embora a morte do corpo físico e de que, afinal, somos verdadeiramente uma só e única família universal: espíritos e homens, envidando esforços para o atingimento da Perfeição.

LÉON DENIS


Léon Denis nasceu em primeiro de Janeiro de 1846 em Foug, pequena localidade de Toul, na França. Desencarnou, cego e doente, em 18 de Abril de 1927, na cidade de Tours, também na França onde viveu a maior parte de sua vida. Era de origem Celta (Gaulês), grupo de antigos povos da Europa, de antes de Cristo.

Era profundamente conhecedor da cultura celta e, como historiador, escreveu obras sobre este assunto, destancando-se "O Gênio Celta e o Mundo Invisível" e a vida de "Joana D´Arc".

Filho único de Joseph Denis, pedreiro pobre, depois carteiro e ferroviário e de Anne-Lucie Liouville, camponesa. Só fez o curso primário, mas lia muito e, graças ao seu talento e às leituras, tornou-se um homem culto e erudito. Foi telegrafista ferroviário e contador comercial. Em Tours, trabalhou como operário braçal numa cerâmica e freqüentou uma escola noturna para aprimorar seus conhecimentos gerais.

Aos 18 anos adquiriu, por curiosidade, "O Livro dos Espíritos", que começou a ler escondido da mãe (que era católica). A mãe descobre o livro e também o lê. Ambos tornam-se espíritas!

Passou a trabalhar numa firma que comerciava com couros, onde se ocupava com a correspondência e contabilidade, passando depois a vendedor - viajante. Como viajante comercial pode visitar e proferir conferências espíritas em várias localidades da França, Bélgica, Suíça, Algéria e Tunísia (na África), Ilha de Córsega, Itália, etc. Manteve a sua profissão de viajante até se aposentar. Filho amoroso, de todos os lugares onde ia, escrevia sempre cartas ou postais à sua mãe, com quem morava. Nunca se casou, por ter saúde fraca e temer desamparar a família.

Conheceu Allan Kardec por ocasião da visita do Codificador à cidade de Tours, onde fora pronunciar uma conferência sobre Espiritismo. Nessa ocasião foi negado permissão para a reunião em um salão que tinha sido alugado para a conferência. Cerca de 300 pessoas tiveram, então, que ouvir o conferencista, em pé, no jardim da casa particular de um espírita! Com 21 anos revê mais duas vezes Allan Kardec; uma vez em Paris e outra em Bonneval. Tornou-se secretário do Grupo Espírita de Tours. Estuda e pesquisa o Espiritismo.

Em 1869, com 23 anos, torna-se Orador da Loja Maçônica dos Demófilos (nome de origem grega, significando Amigos do Povo).
1870 - Guerra Franco-Prussiana. Léon Denis está com 24 anos e serve como Sargento na 1° Leigião da Guarda. Depois passa a Sub-Tenente, Tenente e Major-Ajudante. Vem a Paz.

Foi dedicado colaborador da Liga de Ensino, entidade que buscava criar escolas e bibliotecas para o povo. Certa vez seus amigos quiseram fazê-lo Deputado. Recusou-se.

Sua missão era trabalhar pelo Espiritismo. Léon Denis era médium Escrevente, Vidente e de Intuição. Recordava-se de três de suas encarnações anteriores, na Gália. Sua protetora espiritual foi o espírito que se identificou como Sorela, mais tarde revelando ser Joana D´Arc. Um de seus Guias foi Jerônimo de Praga (Monge Pré-Reformador, 1416, queimado vivo pela igreja de Constança, Alemanha); é também o Espírito Azul (era visto como uma névoa azulada).

Com o tempo Léon Denis tornou-se um famoso orador espírita e passa a defender e esclarecer a Doutrina Espírita em brilhantes conferências. É considerado o continuador e consolidador da obra de Allan Kardec. É tido como o Apóstolo do Espiritismo e reconhecido como Filósofo, Orador, Historiador, Escritor primoroso, autor de 15 obras de inestimável valor doutrinário.

Quando ficou cego tratou de aprender a escrever em Braille, para tomar notas e registrar idéias e pensamentos. Como não podia mais ler nem escrever, passou a utilizar os serviços de secretárias, a quem ditava cartas e seus últimos livros.

Foi Presidente de Honra da União Espírita Francesa. Membro honorário da Federação Espírita Internacional. Presidente do Congresso Espírita Internacional realizado em Paris - 1925.

Viveu 81 anos, 3 meses e 11 dias, legando, pelo seu trabalho, suas conferências, suas obras, notável exemplo de dedicação e doação ao Espiritismo.

EDGARD ARMOND


No dia 29 de novembro de 1982, às 4h30, no Hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo, o comandante Edgard Armond retornou à pátria espiritual. Estava com 88 anos completos. Seu corpo foi sepultado no Cemitério de Vila Mariana.

Do valoroso companheiro que partiu podemos dizer que por mais de 30 anos o movimento espírita brasileiro viveu impulsionado pelo seu dinamismo. Foi ele que sistematizou o estudo da Doutrina em termos evangélicos e estabeleceu cursos para auxiliar o desenvolvimento de médiuns. Foi, também, pioneiro do movimento de unificação, tendo lançado a idéia de criação da USE — União das Sociedades Espíritas. A Federação Espírita do Estado de São Paulo ganhou vida em suas mãos e, por 30 anos, cresceu sob seus cuidados; em 1973, a Aliança Espírita Evangélica nasceu sob sua inspiração.

Edgard Armond foi, sem dúvida nenhuma, o continuador da obra de Bezerra de Menezes, no tocante à difusão e vivência do Espiritismo em seu aspecto religioso.

RESUMO BIOGRÁFICO

Em 1974, o companheiro Jacques André Conchon, então diretor geral da Aliança Espírita Evangélica, recebeu das mãos do comandante Edgard Armond uma seqüência de folhas datilografadas contendo sua autobiografia. E é para esta autobiografia que “O Trevo” abre este mês todas as suas páginas

Identidade

Filho de Henrique Ferreira Armond (de Barbacena) e de Leonor Pereira de Souza Armond (de Formiga), ambos de Minas Gerais.

Nasceu a 14 de junho de 1894, em Guaratinguetá, Estado de São Paulo.

Origem do nome de família

Fidalgos franceses huguenotes, expatriados durante as perseguições religiosas movidas por Catarina de Médicis, na França, a partir da Noite de São Bartolomeu, em Paris, em 1519, e que se estenderam por todo o país até 1582.

Refugiaram-se em Amsterdã, na Holanda, dedicando-se ao comércio, transferindo-se depois para a Ilha da Madeira e dali para o Brasil, em meados de 1700, fixando-se em uma sesmaria de terras recebidas do governo português, entre Juiz de Fora e Barbacena, onde construíram a primitiva Fazenda dos Moinhos.

Ascendentes

Por parte de mãe: comendador Manoel Teixeira de Magalhães Leite, de Formiga, transferido para Guaratinguetá em meados do século passado; e José Antonio Pereira de Souza, médico, falecido em 1904, atualmente dirigindo uma colônia de desencarnados e cooperando na Fraternidade dos Irmãos Humildes, no Plano Espiritual.

Por parte de pai: Honório Augusto Ferreira Armond, Barão de Pitangui — do ramo de Barbacena, e Camilo Maria Ferreira Armond, Conde de Prados — astrônomo e médico de Pedro II, do ramo de Juiz de Fora.

Em Guaratinguetá fez os cursos primário e secundário, transferindo-se para São Paulo em 1912, e no mesmo ano, para o Rio de Janeiro, ingressando no comércio e, ao mesmo tempo, prosseguindo seus estudos.

Em 1914, ao romper a Grande Guerra, voltou para São Paulo e alistou-se na Força Pública do Estado, como praça e, dois anos depois, ingressou na Escola de Oficiais, como 1º sargento, saindo aspirante em 1918, casando-se no ano seguinte com Nancy de Menezes, filha do Marechal do Exército Manoel Felix de Menezes.

Comandou destacamento em Santos, São João da Boa Vista e Amparo, fixando-se, por fim, na Capital. Como 2º tenente, organizou e foi nomeado diretor da Biblioteca da Força Pública, sendo, ao mesmo tempo, nomeado professor de História, Geografia e Geometria na referida Escola.

Em 1923 matriculou-se na Escola de Farmácia e Odontologia do Estado, diplomando-se em 1926.

Em 1922 foi um dos chefes, no Estado, da revolução que malogrou no país e que terminou com a rendição do Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro.

Como 1º tenente, na revolução de 1924, combateu na Capital (São Paulo) e, em seguida, seguiu para o Paraná e Santa Catarina, até o fim da campanha, permanecendo com a tropa de ocupação nas fronteiras do Paraguai e Argentina, até fins de 1925.

Na Revolução de 1930, como capitão, serviu no Estado Maior, voltando em seguida ao magistério militar na Escola de Oficiais e no Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais, lecionando administração e legislação militar.

Em 1931 fez estudos e apresentou projeto de construção de uma estrada de rodagem, de Paraibuna a São Sebastião, visando ligar o litoral norte, abandonado e deserto, ao Planalto e ao sul de Minas; não havendo recursos disponíveis, utilizou praças da própria Força, prestes a serem desincorporados; como não se tratava de serviço próprio da corporação, o projeto sofreu grandes embaraços, mas foi, afinal, aprovado, cabendo-lhe a direção pessoal desse empreendimento, sem contar, entretanto, com os indispensáveis recursos materiais.

Abrindo estrada

Em abril de 1931 iniciou essa construção no Alto da Serra de Caraguatatuba, com 15 soldados e ali trabalhou até o rompimento da revolução constitucionalista de 1932, quando assumiu o comando daquele litoral, das divisas do Estado do Rio até Santos, controlando também o movimento da Esquadra Nacional que mantinha vários vasos de guerra na Ilha de São Sebastião.
Organizou tropas em Paraibuna e Caraguatatuba e comandou-as, logo depois, no sul do Estado, nas cidades de Itaí, Taquari e Avaré e, após a cessação da luta, foi nomeado Chefe de Polícia do Estado, no período de transição que se seguiu, passando em seguida a compor a Casa Militar do governador militar do Estado, General Waldomiro Lima.

Sessenta dias depois pediu demissão da referida função para prosseguir na construção da rodovia a que se propusera, no litoral, que se encontrava apenas iniciada, sendo então nomeado comandante de um Batalhão de Sapadores, criado especialmente para isso, tarefa essa que exerceu até agosto de 1934, quando interrompeu a construção por ordem superior, entregando-a ao DER, órgão competente do governo. Já em fase adiantada e dando, mesmo, trânsito a veículos carroçáveis, de Paraibuna até Caraguatatuba..

Essa iniciativa de caráter mais que particular, realizada com imensos sacrifícios e dificuldades por carência de recursos, antecipou de 40 anos o progresso dessa região, beneficiando as cidades de Paraibuna, Natividade, Salesópolis, Ubatuba, Caraguatatuba, São Sebastião e Ilha Bela.

Regressando em 1934, assumiu o subcomando da Escola de Oficiais; em seguida organizou a Inspetoria Administrativa da Força e, por conveniência organizativa, fez concurso para o quadro de Administração da Força Pública, sendo classificado como tenente-coronel, na chefia do Serviço de Intendência e Transporte, onde permaneceu até 1938, quando sofreu acidente grave, permanecendo, porém, nessa chefia até 1939, quando foi transferido para o Q.G.; solicitando reforma. Foi julgado inválido para o serviço militar, abandonando o serviço em princípios de 1940.

Nesse último período escreveu: “Tratado de Topografia Ligeira” (dois volumes) e “Guerra Cisplatina” (Discursos).

Após este resumo de atividades profissionais, passamos agora às de natureza espiritual, que são as de maior interesse e que justificam o alinhamento destes dados biográficos.

Em abril de 1938, passando pela praça João Mendes, foi abordado por um negro pedreiro, que lhe fizera, há tempos, um pequeno serviço em casa e que se apresentou dizendo ser freqüentador de um Centro Espírita de Vila Mariana e recebera a incumbência de procurá-lo e transmitir-lhe um recado, segundo o qual, em junho do referido ano, seria vítima de um sério acidente.

Não deu importância ao aviso, mas nesse período de tempo, sofreu dois acidentes de carro, ligeiros, dos quais se livrou sem maiores conseqüências, até que, no dia 28 de junho, dirigindo seu carro oficial, teve um encontro com um caminhão de água da Prefeitura, no Parque D. Pedro II, quebrando os dois joelhos, além de outros ferimentos de menor importância.

No dia seguinte, hospitalizado e ainda em estado de choque, foi procurado por duas pessoas: o motorista do caminhão que vinha pedir sua proteção para não perder o emprego e a sua carta (de habilitação), pedido esse que atendeu; e o pedreiro negro que informava que o que aconteceu fora para poder trabalhar para o Espiritismo.

Após várias cirurgias e tratamentos custosos, ficou quase sem poder andar durante seis meses, passando, em seguida, a usar muletas, com grande redução de movimentos.

Solicitou então reforma do serviço, que foi negada por não ter tempo legal de serviço ativo e poderem ainda ser tentados outros tratamentos. Como insistisse, obteve um ano de afastamento e, em seguida, a reforma solicitada.

Resumo de antecedentes doutrinários

Conhecia bem o espiritualismo em geral.

Em 1910, na cidade natal, iniciou estudos sobre religiões e filosofias, demorando-se mais nos conhecimentos orientais, mais ricos de ensinamentos e de tradições.

Em 1921, comandando na cidade de Amparo, entrou para a Maçonaria, para conhecimento desse setor tradicional, deixando de freqüentá-la alguns anos depois, no grau de mestre.

Regressando à capital, fez contatos pessoais com líderes esoteristas, ocultistas e espíritas, entre outros Krishnamurti, Krum Heler, Jenerajadasa, Raul Silva (sobrinho de Batuíra) e o famoso médium Mirabelli, então em franco destaque no setor de efeitos físicos.

Dessa data até 1935, os acontecimentos políticos do país absorveram-no nas funções militares no Estado e fora dele.

Em 1936 concorreu a formar, a convite de Canuto Abreu, um grupo de estudos e praticagens espirituais, que funcionava na residência do referido Canuto, e do qual faziam parte, além de outros não lembrados, o dr. C.G.S. Shalders e Antonio Carlos Cardoso, ambos diretores da Escola Politécnica, tendo oportunidade de trabalhar com o velho Ramalho, médium de incorporação, e uma só vez com Linda Gazera, célebre por ter sido médium de efeitos físicos na Europa, com Charles Richet e outros investigadores.

Nessa época visitou vários Centros Espíritas particulares, que se dedicavam exclusivamente a trabalhos de efeitos físicos nos arrabaldes da capital, todos animados pelos resultados notáveis obtidos pela família Prado, em Belém do Pará.

Em 1932, trabalhou também com o famoso médium dr. Luiz Parigot de Souza, do Paraná.

Lera, a essa altura, grande parte da literatura espírita e, um domingo à tarde, anos mais tarde (1939), passando pela rua do Carmo, notou aglomeração à porta da Associação das Classes Laboriosas; indagando, soube que ali estava se realizando uma comemoração de Kardec. Entrou e assistiu parte dela, ali vendo e ouvindo alguns líderes espíritas antigos, como, por exemplo, João Batista Pereira, Lameira de Andrade, Américo Montagnini, estando também presente o médium Chico Xavier, que apenas iniciava sua tarefa mediúnica.

Nessa reunião recebeu um livreto intitulado Palavras do Infinito, de Humberto de Campos, contendo mensagens avulsas de entidades desencarnadas, distribuído pela recém-formada Federação Espírita do Estado de São Paulo. Esse opúsculo aumentou fortemente seu interesse pela Doutrina.

Desde o ano anterior, convalescendo do grave acidente, já estava sendo levado a trabalhos de cooperação espírita, ajudando pessoas a preparar palestras e conferências, que o procuravam em casa, na recém-fundada Federação e em outras casas espíritas.

Em 1939, já estando licenciado para reforma do serviço ativo, passou pela rua Maria Paula, para onde a Federação havia se mudado há poucos dias e, vendo à porta uma placa com o letreiro "Casa dos Espíritas do Brasil", entrou, sendo muito bem recebido, no corredor, pelo confrade João dos Santos, e por este apresentado a outros que ali se encontravam, com os quais palestrou algum tempo, sendo em seguida, convidado a colaborar, convite que aceitou. Dias depois, recebeu um memorando assinado por Américo Montagnini, presidente recém-eleito, comunicando haver sido eleito para o cargo de secretário-geral da Federação.

Resumo das atividades na Federação

Com essa eleição imprevista, fechou-se o círculo de sua integração no Espiritismo, sendo o primeiro ato de uma série de árduos e prolongados trabalhos, somente encerrados quando, por moléstia e velhice, retirou-se da Administração da Casa em 1967.

Como a Federação apenas se instalara naquele prédio, adaptado para sua sede própria, nada encontrou organizado ou em funcionamento regular, estando tudo por fazer, em todos os setores. João Batista Pereira, na eleição então realizada, deixara a presidência para Américo Montagnini e na sigla "Casa do Espíritas do Brasil" se fundiram a Sociedade Espírita São Pedro e São Paulo, até então dirigida pelo Dr. Augusto Militão Pacheco, a Sociedade de Metapsíquica de São Paulo, dirigida pelo dr. Shalders (que era um desdobramento do grupo de estudos de 1936) e a própria Federação.

O maior interesse da época, como já foi dito, eram os fenômenos de efeitos físicos, que não existiam na casa, mas eram assistidos em vários lugares fora, para onde os diretores se trasladavam, às vezes em conjunto.

O primeiro contato mediúnico na Casa foi com o auxílio da médium particular Sra. N. A., esposa de um tabelião da capital, e foi por ela que dr. Bezerra (na ocasião assumindo a direção espiritual da Casa) transmitiu a frase conhecida: "No mundo, o Brasil; no Brasil, esta terra que tem o nome do grande apóstolo; e aqui, esta nossa casa, que será um farol a iluminar a Humanidade".

Naqueles primeiros dias, predominavam por toda parte os efeitos físicos e era marcante a falta de médiuns de confiança para o intercâmbio com o Plano Espiritual Superior; atendendo a um pedido, o Espírito Bezerra de Menezes prometeu sanar a lacuna; passados poucos meses, apareceu na Casa um rapaz moreno escuro, que se dizia graxeiro da Sorocabana, em Assis, e médium de incorporação. Submetido a uma prova, satisfez plenamente. Chamava-se Ary Casadio e ficou combinada sua mudança para a capital, sob a proteção da Casa, onde ficou alojado. Mais tarde, trouxe esposa e filhos pequenos e se dedicou inteiramente aos trabalhos da Casa, prestando durante longo tempo ótimos serviços, tanto internos como externos, em ocasiões solenes e em trabalhos práticos, inclusive depois dos congressos de unificação realizados a partir de 1947, acompanhando, inclusive, como médium, a Caravana da Solidariedade, que viajou por vários estados do País, na propaganda da unificação doutrinária.

Para melhorar as condições da família, arranjou-se-lhe um emprego no Tribunal de Justiça, como escrevente; bem mais tarde formou-se em Direito e abandonou o serviço por conveniência familiar, mudando-se para Osasco.

Essa carência inicial de médiuns já levara antes à formação do Grupo Razin, com sete membros, com o que o intercâmbio melhorou grandemente. Eis os nomes de seus membros primitivos, além do comandante: Raul de Almeida Pereira, funcionário do IBC, médium de incorporação, vidência e audição; José Quintais, mais tarde funcionário do departamento de projetos da Indústria Villares: vidência, audição, psicografia e desenho mediúnico; Rubens Fortes, oficial reformado do Exército: incorporação consciente; Altair Branco, engenheiro; Luiz Verri, cabeleireiro de senhoras: vidência e audição; Paulo Vergueiro Lopes de Leão, pintor, diretor da Escola de Belas Artes.

O Grupo funcionou bem até 1950, data em que foi dissolvido por não haver concordado com a criação da Escola de Aprendizes do Evangelho, exceto dois membros: Paulo Vergueiro e Carlos Jordão, que fora convidado e passou a fazer parte do Grupo nos últimos dois anos.

Durante suas reuniões, duas coisas importantes aconteceram: 1) Manifestou-se pela primeira vez a entidade feminina designada pelo nome de "Castelã", que a partir de então, dispensou ao Grupo valiosíssima colaboração e 12 anos mais tarde, em 1953, pelo médium Divaldo, se identificou como protetora pessoal do comandante, tendo sido, na Itália papal, rainha de Nápoles, em 1481, como Margarida de Médicis. 2) Em uma de suas reuniões, em 1941, surgiu de improviso um médium desconhecido, jovem, que se dizia médico e se chama Élio.

Sua trajetória foi rápida, porém proveitosa. Acercou-se da reunião, no saguão do salão superior, sentou-se ao lado do comandante, ouviu durante alguns momentos uma mensagem que estava sendo transmitida e interrompeu o trabalho, convocando o comandante para uma reunião urgente. Atendendo ao solicitado, a reunião foi decidida e feita na Escola de Belas Artes, à rua Onze de Agosto, onde não haveria interrupções; acompanharam o comandante o engenheiro Altair, Luiz Verri, Lopes de Leão, diretor da Escola, e o médium.

Foi nesta imprevista reunião que foram feitos os primeiros contatos com Ismael, o preposto de Jesus para a condução espiritual do Brasil, o qual, incorporado no referido médium e sob controle do vidente Verri, transmitiu suas primeiras instruções ao comandante, investindo-o na tarefa de dirigir a Federação, estabelecendo a prevalência do Espiritismo Evangélico e construindo, oportunamente, as bases para o êxito desse transcendente empreendimento espiritual.

E como o comandante alegasse que isso era tarefa não para um, mas para muitos, Ismael respondeu dizendo: "Você foi o escolhido e aqui será o chefe; e terá todo nosso apoio enquanto for fiel ao programa que estabelecemos, com toda liberdade para realizá-lo".

O comandante ponderou mais uma vez que estava apenas iniciando a organização da Casa, estando quase que só, ao que Ismael respondeu, abrindo os braços e mostrando ao vidente uma vasta planície a perder-se no horizonte e toda tomada por guerreiros vestidos de armaduras antigas, cobertos de capacetes brilhantes: “Não estarás só; terás o apoio de todos”; e repetindo energicamente a frase e entregando-lhe um montante luminoso (espada antiga manejada com as duas mãos): "Aqui serás o chefe e esta é a espada do comando".

E rematou a entrevista dizendo: “Para te auxiliar nos primeiros dias como conselheiros e elementos de ligação conosco, colocaremos junto a ti três companheiros valorosos. Este, disse apontando o primeiro deles, chamarás Lorenense; este, mostrando o segundo, chamarás Lusitano; e este, apontando o terceiro, chamarás Britânico”.

Nota:

Tanto a multidão de guerreiros como ao auxiliares apontados pertenciam à Fraternidade dos Cruzados. Os dois primeiros se afastaram logo após a formação do primeiro Conselho da Federação e o último, cujo verdadeiro nome era Ricardo Coração de Leão, rei da Inglaterra e comandante da terceira cruzada histórica, permanece no posto até hoje, sendo na Federação conhecido simplesmente como Ricardo.

Essa designação do Alto foi confirmada, a partir desse dia, várias vezes, em quase todos os trabalhos da Federação e o comandante deu conhecimento dela à diretoria da Federação e vários auxiliares, na própria ocasião tendo recebido sempre o mais completo apoio de todos os companheiros.

Formação do Conselho

Com este precioso auxílio, que era dado quando necessário ou quando pedido, em reuniões reservadas, inclusive com membros da diretoria representada pelo companheiro Montagnini, a organização da Federação caminhou rapidamente, até a formação do Conselho, em 1941, cuja constituição foi outro ato dramático das atividades iniciais da Casa.

Para essa formação, eram organizadas listas de nomes, que eram submetidas aos assessores em reuniões especiais e ali se examinava a identidade pessoal e as possibilidades de colaboração de cada um, como engenheiros, médicos, magistrados, professores, industriais, militares etc.

A lista era metida na gaveta da secretaria e, no dia seguinte, os escolhidos eram confirmados com uma cruz, e os confirmados iam sendo convocados para uma reunião importante no dia 23 de setembro; na convocação, o comandante assinava como coordenador e dizia que se tratava de importante acontecimento espiritual, do qual os convocados seriam participantes, caso o desejassem.

No dia aprazado, cheios de curiosidade, mas reservados e em silêncio, todos compareceram e o programa foi iniciado da seguinte forma: O comandante, presidente da reunião, tomou a palavra e explicou que a importância do acontecimento era toda espiritual, não estava em coisas exteriores, mas nas conseqüências espirituais que decorriam dela, pelo trabalho a realizar; nada havia de sobrenatural, nem se tratava de promoção de fenômenos físicos, tão em voga naqueles dias, mas sim da abertura de um período histórico-religioso, para maiores realizações de orientação espiritual para o nosso país; com a formação de um Conselho destinado a fornecer e consolidar uma mentalidade verdadeiramente cristã, em todas as suas formas e conseqüências benéficas para as almas humanas.

Nota:

Tudo foi planejado e executado nestes termos, para se poder medir, desde o princípio, a sinceridade e a disposição íntima dos elementos convocados.

Quando parou de falar, era visível um certo desagrado entre os presentes, que se mantinham em expectativa e em silêncio.

Foi anunciada, então, a segunda parte do programa: o dr. Pacheco, veterano dirigente e lutador espírita, assumiria a presidência da reunião, devendo ler e interpretar um texto evangélico à sua escolha, enquanto o comandante, acompanhado de um secretário e um médium de confiança (no caso d. Nair Ferreira), se retirariam para o saguão ao lado, para receber do Plano Espiritual o que fosse do seu agrado ou conveniência transmitir aos presentes.

O secretário escalado foi o dr. Lopes Leão, também escolhido, e escreveu a mensagem dada por Bezerra, na qual este apelava para a boa vontade dos presentes e se referia, em imagens estimuladoras, aos grandiosos trabalhos a realizar, no presente e no futuro, para o bem da humanidade e que exigiam a formação de um Conselho altamente credenciado.

Voltando ao salão, o comandante reassumiu a presidência e mandou o secretário ler a mensagem recebida, finda a qual se iniciou, entre os presentes (não todos), uma troca de exclamações de estranheza, por se limitar a reunião a tão pouco, como diziam, quando esperavam tanto e tão diferente do que estava acontecendo, não havendo nem mesmo algum plano de realizações a ser conhecido, examinado e discutido.

Nesse momento, o médium desconhecido, que, sem ser notado, estava assentado entre os presentes, se levantou em transe e, em voz clara e forte, declarou: “O comandante tem no bolso interno do seu paletó um plano de realizações para ser discutido e votado.”

Levando a mão ao bolso interno, o comandante verificou que realmente ali estava um ligeiro esboço que fizera antes, das primeiras atividades e realizações administrativas após a posse do Conselho e prontificou-se a expô-lo; mas as discussões continuaram, crescendo de vulto, havendo mesmo exclamações em voz alta, de evidente desagrado.

Percebendo o perigo de infiltrações negativas, e para dominar o vozerio, o comandante bateu na mesa, fortemente, e à sua vez, exclamou: “Apelo para o Espírito”, findo o que se sentou em silêncio, concentrando-se.

Então, o mesmo médium desconhecido levantou-se de seu lugar, sempre mediunizado, e firme, ereto, olhos fechados, passando rapidamente por entre as cadeiras, chegou até à mesa de direção e sobre ela abateu-se com violência, de bruços e, nessa posição, com voz forte e enérgica, dirigiu-se novamente aos presentes, dizendo, em resumo, três coisas principais:

1) Depois de tudo o quanto foi dito, ninguém pode ignorar as finalidades desta convocação e o oferecimento que se fez, de oportunidades felizes de servirem a humanidade, testemunhando o Evangelho do Divino Mestre Jesus Cristo.

2) Na situação atual do mundo, que tende a se agravar, esta oportunidade é dádiva preciosa que não deve ser amesquinhada.

3) Se não lhes bastam o que foi oferecido, que usem do seu livre-arbítrio, para aceitar ou recusar. Se não vos bastam, para agir, a espada da fé e o escudo do Evangelho, deixem a carga já, para que permaneçam somente os possuidores de boa vontade, dispostos a colaborar nesse empreendimento de amor e redenção dos nossos semelhantes.”

Fez-se fundo silêncio, dentro do qual o comandante perguntou se alguém desejava usar da palavra e, ninguém se manifestando, declarou que esperava a decisão final de cada um em uma nova reunião, que convocava para daí a cinco dias, à mesma hora e local; e, pronunciando a prece de encerramento, declarou terminada a reunião.

Na sala da secretaria geral, onde muitos se congregaram em seguida, o confrade Pacheco o abraçou, lastimando não ter podido deixar de ser pedra de tropeço, ao que o comandante respondeu que, muito ao contrário, sua colaboração fora útil porque iria ajudar a selecionar, com mais facilidade e segurança, os membros do futuro Conselho.

Na próxima reunião, a 28 de setembro, compareceram dois terços dos primeiros convocados; foi-lhes tomado o compromisso, ante Jesus, de se dedicarem, daí por diante, devotadamente, ao engrandecimento da Federação e do Espiritismo em nosso País. Foram empossados e tomaram conhecimento mais detalhado da organização da Casa e do preparo da gestão administrativa que se iniciava.

Nota:

Esse primeiro conselho chamado de Orientação, a partir de 1944 passou a ser Deliberativo.

Organização da casa

Feito isso, prosseguiram os trabalhos organizativos com a elaboração das primeiras instruções e publicações:

Contribuições ao Estudo da Mediunidade (1942)

Mediunidade de Prova (1943)

Desenvolvimento Mediúnico (maio de 1944)

Missão Social dos Médiuns (junho de 1944)

Esses livretos foram reunidos em um tratado, em 1947(*), com novas bases para o ensino e pratica da mediunidade.

Em 1950 foi publicado um livreto sobre “Passes e Radiações”, visando a novas diretrizes para os trabalhos iniciais de curas, além de vários outros opúsculos e livros, todos destinados ao mesmo fim, no terreno didático, visando à criação de cursos e escolas especializadas, as primeiras medidas tomadas nesse sentido desde a Codificação e que deveriam mudar a feição e o rumo do Espiritismo em nosso Estado, em termos decididamente evangélicos.

Estabilizando-se assim a administração e o funcionamento da Casa, a Secretaria Geral propôs a dissolução do consórcio existente desde 1939, sob o título “Casa dos Espíritas do Brasil”, devendo-se, daí em diante, usar unicamente o nome de Federação Espírita; isso foi feito mediante entendimentos com as diretorias da Sociedade de Metapsíquica e da Associação São Pedro e São Paulo, tendo sido a proposta aceita e executada.

Como conseqüência, a Sociedade de Metapsíquica passou a formar um departamento da Casa com o mesmo nome de Metapsíquico, cujo funcionamento e aparelhagem ficou, inicialmente, a cargo da própria Secretaria Geral, passando a funcionar regularmente em trabalhos de efeitos físicos, considerando-se a conveniência de ainda se conservar esse setor em atividade, para atrair para a Federação numerosos elementos da sociedade interessados nele.

Mais tarde a direção foi transferida para o dr. Shalders, que o exerceu até quando essas atividades foram julgadas dispensáveis, passando-se, em seguida, a utilizar efeitos físicos unicamente em trabalhos de cura espiritual.

Em março de 1944 a Secretaria Geral apresentou projeto de criação de um jornal, sob o título de O Semeador para a difusão das novas diretrizes e movimento geral da Casa.

Nota:

Nesse jornal, o Comandante, até fevereiro de 1972, publicou 425 artigos de colaboração contínua.

O registro do jornal foi feito em nome dele mesmo e não no da Federação, por exigência do Estado Novo revolucionário, e funcionou sob responsabilidade da confreira Marta Cajado de Oliveira, durante alguns meses, prosseguindo a partir daí, até 1967, sob sua própria responsabilidade, quando deixou a função administrativa da Casa, por moléstia.

Nos primeiros tempos foi ele obrigado a usar vários pseudônimos para vencer as dificuldades da colaboração escassa, e garantir a saída regular do jornal, regularidade que, aliás, tem sido mantida rigorosamente até a presente data, graças à excelente direção do confrade Paulo Alves de Godoy.

O primeiro cabeçalho foi desenhado por José Quintais, do antigo Grupo Razin, e, mais tarde, ligeiramente alterado por Joaquim Alves.

Além do jornal, para incrementar a difusão da Doutrina e prestigiar a Federação, propôs a criação de uma hora espírita, que foi contratada com a Rádio Tupi, aos domingos, e dirigida pelo confrade João Rodrigues Montemor.

Para a tribuna da Casa eram trazidos oradores espíritas de renome, da capital e de fora, custeando-se as despesas, como também se convidavam líderes de outras religiões e filosofias, para dar à Casa, desde início, caráter liberal e fraterno, de um Espiritismo racional e universalista, o que redundou em grande prestígio público para o Espiritismo em geral.

As conferências públicas da manhã e noite dos domingos atraíam grande assistência, e os programas eram publicados previamente em jornais de larga circulação; as da manhã eram de responsabilidade do saudoso confrade Pedro de Camargo — Vinícius — e as da noite, em rodízio entre os confrades Américo Montagnini, Godoy Paiva e outros.

O Departamento Federativo foi desenvolvido amplamente e a secretaria geral convidava mensalmente os centros, em rodízio, para reuniões conjuntas e festivais na Federação, visando à fraternização e à sociabilização coletiva, e vários confrades dedicaram a ele seus esforços.

Os congressos

Em 1947, para unir a família espírita do Estado e unificar as práticas doutrinárias, a Secretaria propôs um largo plano de ação que, através de uma comissão composta de três membros, incluindo os confrades Luiz Monteiro de Barros e Vergueiro, foi submetido às quatro maiores entidades espíritas da Capital e em todos os detalhes prontamente aprovado. Propôs também a criação da USE — União Social Espírita, entidade unificadora, sob legenda, e foi efetivada a unificação na quase totalidade e convocado para esta capital o 1º Congresso de Unificação Estadual, que reuniu na Federação a quase totalidade das instituições espíritas do estado, fazendo-se, ainda, um recenseamento geral dos espíritas, que acusou um total de 700.000 adeptos, incluindo grupos particulares de existência regular. Tudo foi feito quase sem despesas, com a colaboração espontânea de todos, dando assim a Federação um notável exemplo de dinamismo e eficiência e sendo a Doutrina bastante divulgada, com ampla publicidade no Estado e fora dele, passando a Casa a exercer, desde então, destacada e incontestável liderança no Estado e entre as congêneres do país.

Desenvolvendo a iniciativa, a Secretaria propôs também a convocação de um Congresso Nacional, a reunir-se também aqui em São Paulo que, da mesma forma, teve grande êxito e com o qual se recusou a FEB a colaborar e reconhecer, mas que teve grande influência no setor nacional, com a criação, a posteriori, na área da referida FEB, do Conselho Federativo Nacional, cujas atividades têm sido, desde então, mais que tudo burocráticas.

No livro intitulado Anais do Primeiro Congresso Espírita do Estado de São Paulo, editado na ocasião, encontra-se a descrição pormenorizada e completa dessa iniciativa histórica do Movimento Espírita em nosso Estado, realizado pela Federação.

Terminados os Congressos de unificação estadual e nacional, como não convinha ao comandante permanecer na presidência da antiga USE para não prejudicar a administração da Federação, aconselhou aos companheiros da antiga diretoria que não concorressem à renovação dos cargos em nova eleição, para que a legenda tivesse liberdade de ação e agisse por si mesma no prosseguimento de sua importante tarefa. Mas, infelizmente, nem todos se afastaram e a nova diretoria, que então se formou, caminhou em sentido diferente, transformando-se a legenda transitória em entidade competitiva com as Patrocinadoras da iniciativa. Isso foi um erro grave, que redundou, senão em fracasso, pelo menos em grande retardamento da unificação por mais de 25 anos, tentando-se novamente nestes dias a malograda realização.

Não obstante essa alteração de rumos e de princípios organizativos, a Federação jamais regateou auxílio à nova entidade, que passou a se chamar União das Sociedades Espíritas e até hoje o faz, como é do conhecimento geral.

Em 1953, a Secretaria Geral concorreu grandemente à promoção, no Rio de Janeiro, de uma enquete em vários jornais, entre outros assuntos, sobre Espiritismo e Umbanda, após uma série de artigos publicados no Semeador, pelo comandante, visando esclarecer o público sobre as diferenças entre uma e outra dessas duas correntes religiosas e eliminar confusões e interferências de Umbanda nos Centros Espíritas, tornando assim o problema melhor ventilado em público e conhecido, igualmente, pelas autoridades públicas e culturais do País. Nessa enquete manifestaram-se vários representantes do Espiritismo e da Umbanda.

Aprendizes do Evangelho

Para situar o Espiritismo à vontade em relação aos conhecimentos e tradições religiosas da humanidade, duas coisas foram também realizadas com desassombro: uma, no campo externo — a publicação de vários livros de formação cultural-doutrinária, como Os Exilados da Capela (1949) e Na Cortina do Tempo (1962), mostrando os albores das civilizações primitivas, seu intercâmbio com outros orbes, assuntos estes que, atualmente, estão sendo afoitamente tratados em obras “best-sellers” por escritores estrangeiros de nomeada; e no campo interno, no cumprimento do programa do Alto, se criou a Escola de Aprendizes do Evangelho (1950), órgão primeiro de uma Iniciação Espírita de larga esfera de ação, com base no Evangelho Cristão; e uma série de 21 livros didáticos, parte deles para uso na referida Escola e parte para a Fraternidade dos Discípulos de Jesus, termo global da Iniciação referida.

Nessa Iniciação foram oferecidos conhecimentos espirituais mais amplos, com predominância do que foi estabelecido para a reforma íntima dos adeptos, base insubstituível da evangelização, a seu turno condição fundamental da redenção espiritual do homem encarnado.

No planejamento dessa Iniciação surgiram dificuldades no processo a adotar para se conseguir executar a reforma íntima, valendo-se por fim, o comandante, da caderneta pessoal usada pelos antigos essênios do tempo de Jesus, descrita no livro Harpas Eternas de Hilarion do Monte Nebo, contemporâneo e servidor de Jesus naqueles tempos, livro esse que lhe foi enviado da Argentina, pelo autor, antes do lançamento; com algumas alterações e adaptações, o sistema foi adotado com excelentes resultados.

Na criação dessa Iniciação tinha-se também em vista unir os adeptos por uma mística religiosa cristã, visando à redenção espiritual de cada um, convenientemente adequada à mentalidade moderna e à racionalidade da Doutrina Espírita, o que até o presente tem sido êxito indiscutível na Federação(*), mas prejudicado fora dela devido, de uma parte, aos temores de se lançarem os dirigentes, desassombradamente, à expansão e, de outra, à negligência existente entre os espíritas do sexo masculino em relação à evangelização, objetiva e deliberadamente conduzida, sendo esse, em grande parte, um dos motivos do retardamento da expansão do Espiritismo em nosso País.

Assistência social

O Departamento de Assistência Social nasceu e iniciou seu desenvolvimento na própria sede, dirigido inicialmente por um pequeno grupo de senhoras e moças que, ao depois, criaram e mantém até agora, com grande êxito, a instituição de assistência infantil denominada “Nosso Lar”; passaram por ele vários confrades que, infelizmente, não permaneceram, sendo necessário, periodicamente, que a própria secretaria geral avocasse a direção; isso, até que o Departamento pudesse ser entregue ao valoroso confrade José Gonçalves Pereira e mudado para a rua Santo Amaro, em prédio interditado pela Prefeitura e adquirido para uso precário durante vários anos e, mais tarde, adquirido também o terreno ao lado, onde se edifica hoje em dia a nova sede da Federação.

Sob a direção do confrade Gonçalves, o departamento se desenvolveu amplamente, mas esse desenvolvimento exigia sua mudança para local fora do centro da cidade, o que foi conseguido com obtenção de um comodato a longo prazo, concedido pelo governo Jânio Quadros, com auxílio direto da Secretaria Geral junto ao major Pina de Figueiredo, genro do comandante, resultando daí a Casa Transitória, que é hoje motivo de satisfação e orgulho realizador para todos da Federação.

O período que vai de 1950 a 1965 foi marcado por atividades multiformes, aprimoramento de trabalhos práticos, desenvolvimento da consolidação da organização montada de início e que comporta ainda amplos desdobramentos, sem alterações de sua estrutura original; como também grande impulso dado à difusão por vários meios, inclusive pela publicação de várias obras didáticas, litero-doutrinárias e opúsculos de bolso, escritos para ampla distribuição no meio popular, de cujo trabalho não se pode esquecer a colaboração preciosa prestada pelo confrade Coutinho, ex-diretor do Departamento de Assistência Espiritual da Federação.

Epílogo

Ao adoecer, em fins de 1965, o Comandante, mesmo assim, prosseguiu colaborando oficialmente, ainda por dois anos, até as eleições de 1967, quando solicitou seu afastamento definitivo, por ver que a moléstia era de curso demorado, pedindo também dispensa dos serviços do Conselho, por não poder assumir compromissos de assíduo cumprimento.

Dedica-se, desde então, e enquanto lhe for ainda possível, a colaborar, a distância, no setor da publicidade, da organização de centros e organizações espíritas, atuando na difusão evangélica e sua expansão, inclusive em países estrangeiros.

Ao se retirar, deixou sem efetivação dois problemas pelos quais sempre se bateu: a construção da nova sede, para melhor instalação de cursos, escolas e serviços de administração, para o que, deixou em mãos da DE um esboço de construção em quatro andares, com escada externa, para os casos de incêndio, e um esboço, também de unificação doutrinária, atualmente em pleno curso com projeto diferente.

E agora, atendendo à solicitação, oferece esta biografia-relatório resumido, único meio adequado ao caso, pelo estreito entrosamento de sua modesta pessoa aos acontecimentos da vida material e espiritual da Federação.

E, antes de encerrar, convém ainda dizer que, desde o início, o trabalho realizado foi de equipe conduzida por um chefe espiritualmente responsável, e o êxito obtido foi resultado do ideal evangélico, adquirido em grande parte na Escola de Aprendizes, que se conseguiu implantar na mente e no coração de cada trabalhador que, aliás, demonstraram todos, com raras exceções, magnificamente dotados de inegável capacidade realizadora; e os nomes individualmente citados não representam distinções, mas circunstâncias de ordem funcional.

A síntese espiritual do que foi narrado é, pois, a seguinte:

1910 a 1926 — No Rio de Janeiro e São Paulo: estudos especiais de filosofia e religião.

1926 a 1938 — Primeiros contatos e estudos teóricos de Espiritismo.

1940 a 1965 — Organização e direção efetiva da Federação.

1965 a 1967 — Colaboração a distância sem compromissos de subordinação administrativa ou funcional.

1967 em diante — Colaboração livre e reduzida em várias atividades doutrinárias, de interesse geral do Espiritismo no estado, no País e no Estrangeiro.

Nota do comandante:

Como estes dados são fornecidos quase sempre de memória, é possível que haja discrepância aqui ou ali, sobretudo na cronologia dos fatos, o que, todavia, serão de fácil retificação.

Nota:

A partir de 1970, passa a orientar as atividades de companheiros impulsionados ao trabalho evangélico nos moldes originalmente determinados pelo Plano Espiritual Superior na década de 1950. Em uma reunião em sua residência, em 4 de dezembro de 1973, estes companheiros fundaram a Aliança Espírita Evangélica, com a proposta de expandir, através da atuação dos Centros Espíritas Integrados a este programa, a expressão do aspecto religioso do Espiritismo.

Durante os primeiros anos de organização da Aliança, o comandante supervisionou a produção de novas obras editoriais, tanto para uso das Escolas de Aprendizes nos Grupos Integrados, que rapidamente se multiplicavam, como para formar o catálogo editorial da então nascente Editora Aliança.

Graças a este vigoroso impulso, bem como sua serenidade e experiência no trabalho espírita evangélico, a Aliança cresceu e se expandiu, tornando-se mais uma referência em termos de trabalhos doutrinários em nosso País.

A partir de 1980 o comandante também assessorou a formação do Setor III da Fraternidade dos Discípulos de Jesus, que reúne diversos grupos espíritas, igualmente vinculados à tarefa de expansão do Espiritismo Religioso através da imensa capacidade renovadora de consciências e corações constituída pela Escola de Aprendizes do Evangelho.

Retornando aos pensamentos apresentados no início, concluímos que, para Armond, a grande Transição para a Vida Maior provavelmente significou tão somente a continuidade de uma extensa folha de serviços ao Divino Mestre, pois o comandante permanece em plena atividade no trabalho redentor.
Fonte: Internet


EURÍPEDES BARSANULFO


Nascido em 1º de maio de 1880, na pequena cidade de Sacramento, Estado de Minas Gerais, e desencarnado na mesmo cidade, aos 38 anos de idade, em 1o. de novembro de 1918.

Logo cedo se manifestou nele profunda inteligência e senso de responsabilidade, acervo conquistado naturalmente nas experiências de vidas pretéritas.

Era ainda bem moço, porém muito estudioso e com tendências para o ensino, por isso foi incumbido pelo seu mestre-escola de ensinar aos próprios companheiros de aula. Respeitável representante político de sua comunidade tornou-se secretário da Irmandade de São Vicente de Paula, tendo participado ativamente da fundação do jornal "Gazeta de Sacramento" e do "Liceu Sacramento". Logo viu-se guindado à posição natural de líder, por sua segura orientação quanto aos verdadeiros valores da vida.

Através de informações prestadas por um dos seus tios, tomou conhecimento da existência dos fenômenos espíritas e das obras da Codificação Kardequiana. Diante dos fatos voltou totalmente suas atividades para a nova Doutrina, pesquisando por todos os meios e maneiras, até desfazer totalmente suas dúvidas.

Despertado e convicto, converteu-se sem delongas e sem esmorecimentos, identificando-se plenamente com os novos ideais, numa atitude sincera e própria de sua personalidade, procurou o vigário da Igreja matriz onde prestava sua colaboração, colocando à disposição do mesmo o cargo de secretário da Irmandade.

Repercutiu estrondosamente tal acontecimento entre os habitantes da cidade e entre membros de sua própria família. Em poucos dias começou a sofrer as conseqüências de sua atitude incompreendida.

Persistiu lecionando e entre as matérias incluiu o ensino do Espiritismo, provocando reação em muitas pessoas da cidade, sendo procurado pelos pais dos alunos, que chegaram a oferecer-lhe dinheiro para que voltasse atrás quanto à nova matéria e, ante sua recusa, os alunos foram retirados um a um.

Sob pressões de toda ordem e impiedosas perseguições, Eurípedes sofreu forte traumatismo, retirando-se para tratamento e recuperação em uma cidade vizinha, época em que nele desabrocharam várias faculdades mediúnicas, em especial a de cura, despertando-o para a vida missionária. Um dos primeiros casos de cura ocorreu justamente com sua própria mãe que, restabelecida, se tornou valiosa assessora em seus trabalhos.

A produção de vários fenômenos fez com que fossem atraídas para Sacramento centenas de pessoas de outras paragens, abrigando-se nos hotéis e pensões, e até mesmo em casas de famílias, pois a todos Barsanulfo atendia e ninguém saía sem algum proveito, no mínimo o lenitivo da fé e a esperança renovada e, quando merecido, o benefício da cura, através de bondosos Benfeitores Espirituais.

Auxiliava a todos, sem distinção de classe, credo ou cor e, onde se fizesse necessária a sua presença, lá estava ele, houvesse ou não condições materiais.

Jamais esmorecia e, humildemente, seguia seu caminho cheio de percalços, porém animado do mais vivo idealismo. Logo sentiu a necessidade de divulgar o Espiritismo, aumentando o número dos seus seguidores. Para isso fundou o "Grupo Espírita Esperança e Caridade", no ano de 1905, tarefa na qual foi apoiado pelos seus irmãos e alguns amigos, passando a desenvolver trabalhos interessantes, tanto no campo doutrinário, como nas atividades de assistência social.

Certa ocasião caiu em transe em meio dos alunos, no decorrer de uma aula. Voltando a si, descreveu a reunião havida em Versailles, França, logo após a I Guerra Mundial, dando os nomes dos participantes e a hora exata da reunião quando foi assinado o célebre tratado.

Em 1o. de abril de 1907, fundou o Colégio Allan Kardec, que se tornou verdadeiro marco no campo do ensino. Esse instituto de ensino passou a ser conhecido em todo o Brasil, tendo funcionado ininterruptamente desde a sua inauguração, com a média de 100 a 200 alunos, até o dia 18 de outubro, quando foi obrigado a cerrar suas portas por algum tempo, devido à grande epidemia de gripe espanhola que assolou nosso país.

Seu trabalho ficou tão conhecido que, ao abrirem-se as inscrições para matrículas, as mesmas se encerravam no mesmo dia, tal a procura de alunos, obrigando um colégio da mesma região, dirigido por freiras da Ordem de S. Francisco, a encerrar suas atividades por falta de freqüentadores.

Liderado a pulso forte, com diretriz segura, robustecia-se o movimento espírita na região e esse fato incomodava sobremaneira o clero católico, passando este, inicialmente de forma velada e logo após, declaradamente, a desenvolver uma campanha difamatória envolvendo o digno missionário e a doutrina de libertação, que foi galhardamente defendida por Eurípedes, através das colunas do jornal "Alavanca", discorrendo principalmente sobre o tema: "Deus não é Jesus e Jesus não é Deus", com argumentação abalizada e incontestável, determinando fragorosa derrota dos seus opositores que, diante de um gigante que não conhecia esmorecimento na luta, mandaram vir de Campinas, Estado de S. Paulo, o reverendo Feliciano Yague, famoso por suas pregações e conhecimentos, convencidos de que com suas argumentações e convicções infringiriam o golpe derradeiro no Espiritismo.

Foi assim que o referido padre desafiou Eurípedes para uma polêmica em praça pública, aceita e combinada em termos que foi respeitada pelo conhecido apóstolo do bem.

No dia marcado o padre iniciou suas observações, insultando o Espiritismo e os espíritas, "doutrina do demônio e seus adeptos, loucos passíveis das penas eternas", numa demonstração de falso zelo religioso, dando assim testemunho público do ódio, mostrando sua alma repleta de intolerância e de sectarismo.

A multidão que se mantinha respeitosa e confiante na réplica do defensor do Espiritismo, antevia a derrota dos ofensores, pela própria fragilidade dos seus argumentos vazios e inconsistentes.

O missionário sublime aguardou serenamente sua oportunidade, iniciando sua parte com uma prece sincera, humilde e bela, implorando paz e tranqüilidade para uns e luz para outros, tornando o ambiente propício para inspiração e assistência do plano maior e em seguida iniciou a defesa dos princípios nos quais se alicerçavam seus ensinamentos.

Com delicadeza, com lógica, dando vazão à sua inteligência, descortinou os desvirtuamentos doutrinários apregoados pelo Reverendo, reduzindo-o à insignificância dos seus parcos conhecimentos, corroborado pela manifestação alegre e ruidosa da multidão que desde o princípio confiou naquele que facilmente demonstrava a lógica dos ensinos apregoados pelo Espiritismo.

Ao terminar a famosa polêmica e reconhecendo o estado de alma do Reverendo, Eurípedes aproximou-se dele e abraçou-o fraterna e sinceramente, como sinceros eram seus pensamentos e suas atitudes.

Barsanulfo seguiu com dedicação as máximas de Jesus Cristo até o último instante de sua vida terrena, por ocasião da pavorosa epidemia de gripe que assolou o mundo em 1918, ceifando vidas, espalhando lágrimas e aflição, redobrando o trabalho do grande missionário, que a previra muito antes de invadir o continente americano, sempre falando na gravidade da situação que ela acarretaria.

Manifestada em nosso continente, veio encontrá-lo à cabeceira de seus enfermos, auxiliando centenas de famílias pobres. Havia chegado ao término de sua missão terrena. Esgotado pelo esforço despendido, desencarnou no dia 1o. de novembro de 1918, às 18 horas, rodeado de parentes, amigos e discípulos.

Sacramento em peso, em verdadeira romaria, acompanhou-lhe o corpo material até a sepultura, sentindo que ele ressurgia para uma vida mais elevada e mais sublime.