1915 - 2001
Nasceu na
cidade do Rio de Janeiro em 13 de julho de 1915 e desencarnou em 28 de dezembro
de 2001 também na cidade do Rio de Janeiro.
Não esqueça
de dar um abraço forte no Sylvio - era assim que, muitas vezes o amorável
Espírito Bezerra de Menezes terminava suas conversas conosco, através da
abençoada mediunidade de Divaldo Pereira Franco. Para nós, tal referência é
suficiente para distinguir o querido amigo e irmão que no dia 28 de dezembro
regressou ao Plano Espiritual.
Durante
muitos anos S. Xavier dirigiu o SEI. Aqui deixou sua marca de refinado pensador
espírita. Seus editoriais conseguiam o prodígio da reunião da síntese com a
sabedoria, absolutamente fiéis ao pensamento de Kardec.
Humilde,
simples, afável, delicado, modesto, solidário, ético, generoso, difícil
encontrar tantas virtudes num homem que procurava ser comum, mas viveu
espiritamente, de maneira incomum até entre os espíritas.
Sylvio
Walter Xavier, general do Exército Brasileiro, oriundo da arma de Artilharia,
brilhante oficial de Estado Maior, paraquedista pioneiro, conhecido e
respeitado na caserna por encarnar tão esplendidamente o modelo do militar
sério, disciplinado, consciente, ao mesmo tempo alegre, otimista, benevolente.
Certa feita,
viajamos a Bayeux, na Paraíba, para inaugurar a Casa de Odin Araújo. Lembro-me
de seus olhos serenos, fitando-me entre silêncios eloquentes. No aeroporto, de
volta ao Rio, comentávamos sobre Odin, que dava o nome à Casa recém-inaugurada.
Fora um benfeitor a quem muito devíamos. No entanto, seu nome era desconhecido,
até no meio espírita, dizia eu. A voz musical, compassada, de Xavier saiu-lhe
do profundo da alma, respondendo ao meu questionamento com outra indagação:
"Quem eram os pastores que ofertaram a Jesus a manta simples, ainda na
manjedoura? Quantos anônimos, a cada dia, servem na limpeza das ruas, nos
hospitais públicos, nos asilos, num aeroporto como este? E são esses, de fato,
os imprescindíveis, que garantem o funcionamento do mundo." Jamais esqueci
a lição tão exata, dita candidamente, como se fosse a coisa mais clara da vida.
Lembrei-me
da cena tocante, ali mesmo, na Paraíba. Um pouco antes da inauguração da Casa,
o general entrou em uma das salas de aula.
Servia-se a
refeição. Ele então ajeitou as pernas compridas na cadeira pequena. As crianças
o olhavam sem compreender. Sua voz amiga disse que era hora de comer, deviam
agradecer a Jesus pela bênção do alimento. Sorrindo, como sempre, colocou a
cabeça entre as mãos e começou a orar com singeleza e simplicidade. As
crianças, vencidas pelo momento mágico, imitaram-no. A prece saiu fácil e
ligeira. Logo todos comiam em paz.
Admirei
aquele senhor magro, moreno, rosto fino, queixo afilado, um sorriso oferecido
preliminarmente a todos. Era o presidente do Lar Fabiano de Cristo, pioneiro da
Obra de Fabiano, amigo fiel de Jaime Rolemberg de Lima, a quem conhecera em
Sergipe quando serviram juntos por lá, nos tempos terríveis da Segunda Guerra
mundial.
Rolemberg
era presidente e Xavier era o seu vice, no Lar e na CAPEMI. Construíram juntos
uma das maiores empresas do país, na época. Construíram juntos um sonho de amor
que, até hoje, sustenta o Lar Fabiano, uma das maiores e mais importantes obras
filantrópicas do Brasil. Andaram juntos pelo Sergipe, jovens, começando a vida,
atravessando o mar com a canoa, rindo gostosamente, as jovens esposas Elza e
Maria José, os filhos pequenos. Quem podia imaginar o que viria pela frente?
Uma vez a canoa furou. Rolemberg remava com seus braços acostumados, filho de
pescador que era. Xavier e as crianças jogavam de volta ao mar a água que
entrava teimosa, querendo levar a todos para o fundo.
Trabalhavam
juntos, riam, arriscavam e se divertiam juntos, famílias unidas, Rolemberg dois
filhos, Xavier três meninos levados. Nem imaginavam o quanto teriam que remar
juntos, a vida inteira, conduzindo um imenso navio, a barca de Fabiano, com
milhares de associados, milhares de empregados, milhares de amparados. Mais do
que isso, construindo juntos um modelo de empresa que, hoje, é copiado quando a
responsabilidade social das instituições começa a ficar mais clara para todos.
Pioneirismo.
Xavier conhecia aquilo desde que fora aos Estados Unidos e voltara para
implantar os primeiros cursos de paraquedismo militar no Brasil, tornando-se
membro da primeira turma de mestres de salto. Perseverança, crença, pertinácia,
audácia, desassombro, não se faz um paraquedista sem esses atributos. Para nós,
aprendizes de Espiritismo, isto se traduz em coragem, sobretudo em coragem
moral, na fé em Deus, na sua bondade e justiça. Na certeza de quem sabe que
nada acontece sem a Sua permissão.
Um dia, o
filho Adilson, capitão do Exército, desencarnou em terrível acidente. Mais
tarde seu filho Amilton, químico brilhante, também desencarnou prematuramente.
Xavier
sofreu em silêncio. Os olhos falavam das dores da alma, mas era o primeiro a
repetir que todas as vicissitudes da vida, todas as dores, são provas ou
expiações e devem ser aceitas sem murmurações.
Depois que
Rolemberg desencarnou, Xavier assumiu a presidência do Lar e da CAPEMI.
Posteriormente, com a nova diretoria, voltou à sua posição de vice-presidente.
Não muito tempo depois surgiram severas dificuldades para a mantenedora. A empresa
imensa passou por grandes problemas.
Xavier
assumiu a presidência do Lar numa época de desafios. Não mais os recursos tão
disponíveis. Era preciso podar dolorosamente a grande e frondosa árvore, para
sobreviver. Era preciso manter fidelidade aos propósitos. Administrador afável,
incansável e disciplinado, oferece exemplo e negocia soluções. A grande crise é
ultrapassada, permitindo novas semeaduras.
Certo dia
conversamos no seu gabinete modesto. Falávamos daqueles anos de dificuldades.
Ele explicava, sereno, que a Obra de Fabiano é uma árvore grande. E árvores
grandes precisam de boa semente, luz, calor, água e tempo para crescerem e
oferecerem boa sombra e bons frutos. Então, completava ele, magistralmente,
temos aqui a semente plantada por Fabiano de Cristo, a luz de Bezerra e de
inúmeros outros obreiros do Bem, o calor humano que é a própria essência do
nosso trabalho com os irmãos necessitados, a água viva do Evangelho de Jesus,
incentivando entendimentos e os anos de experiência e de dedicação de tantos
bons amigos. Temos aqui uma árvore tão bem plantada, de raízes tão profundas,
que sempre será capaz de resistir às piores tempestades. Tenhamos fé e
trabalhemos, tudo dará certo. E, com gesto característico, silenciava, passando
a mão de leve logo acima da orelha direita, como se procurasse consertar um
cabelo rebelde. Era como se estivesse pedindo desculpas por ensinar alguma
coisa.
Ajustado o
Lar Fabiano, o SEI era a sua grande alegria. Fazia questão de responder
pessoalmente a alentada correspondência de todo dia. O SEI nasceu na casa de
Rolemberg, por orientação dos Espíritos. Inicialmente era usado o mimeógrafo a
álcool. Depois veio a tinta, depois as matrizes, hoje usamos computadores.
Chico Xavier traduziu o pensamento de Emmanuel: elaborar um órgão semanal,
gratuito, de divulgação doutrinária, com um editorial simples, noticiário do
Brasil e do mundo espírita, uma seção de livros, outra de notas comentadas
sobre notícias da grande imprensa, exatamente como até hoje. O SEI ficava
pronto, endereçado, separado por grupos de endereços e as pilhas se acumulavam.
Quinta-feira de manhã todos se reuniam e oravam para que aquelas palavras
levassem entendimento, consolo, esperança, alegria, informação correta,
orientação segura. Até hoje, o SEI vai todas as semanas para mais de 150 países
do mundo. Emocionante e justo o amor de Xavier pelo SEI.
Quando a
doença começou a se manifestar, era uma dificuldade de oxigenação do cérebro.
Ele resistiu o quanto pôde. Mas foi o primeiro a tomar a iniciativa. Deixou o
cargo executivo e passou a ser Conselheiro. Atraiu novos colaboradores para o
SEI, preparou a sua saída. Afinal, completou seu tempo entre nós e regressou à
Pátria Espiritual.
Fico
imaginando a festa no espaço. Fabiano, Bezerra, Rolemberg, Pastorino, O'Reilly,
Marechal Mattos, sua mãezinha Rachel, que o introduziu no Espiritismo, seus
filhos, todos os patronos das Casas Assistenciais, um coro imenso de
ex-amparados pelo Lar Fabiano, cantando hosanas à passagem do humilde
trabalhador do Bem. Entre Rolemberg e Bezerra ele caminha com seus olhos
líquidos, em direção às estrelas. Parece que ainda ouço sua voz repassada de
doçura, falando da grande árvore: os homens, as suas obras, são como as grandes
árvores, criadas para a beleza e a utilidade; sua felicidade está nas suas
raízes divinas, que lhes permitem resistir às intempéries da vida e que lhes
dão força e coragem para, através do trabalho, buscarem o Bem em toda parte.
Dizem os
mestres de salto, honrando sua origem americana, follow me! Que possamos seguir
seus voos de paraquedista do Bem, na poeira da luz!
Autor
Desconhecido. Fonte do texto e imagem: Internet Google.
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